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Automobilismo

A história da lendária corrida de Le Mans

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Um pouco sobre a história, as tradições, os carros e os pilotos que fizeram desta a maior corrida planeta.

Hoje, quinta-feira (17), começam os treinos para a edição 2020 das 24 horas de Le Mans. A lendária corrida foi adiada devido aos impactos da pandemia do novo coronavirus, mas mesmo com restrições e atraso, teremos nossa edição 2020 da famosa prova de endurance nos próximos dias 19 e 20 de setembro.

Provavelmente poucos eventos esportivos no planeta são tão emblemáticos como as 24 horas de Le Mans (lê-se “Le Man”). Embora não haja um consenso, muitos podem atribuir o titulo de “maior” evento esportivo do planeta à Copa do Mundo, às Olimpíadas, ou até mesmo ao Super bowl. Claro, se você está lendo isso talvez seja fã das corridas, e vai argumentar que esse título pertence a Le Mans, mas a verdade é que este tema é muito subjetivo, então vou defender nosso querido esporte partindo da lista divulgada pelo Bleache Report https://bleacherreport.com/articles/1247928-ranking-the-biggest-events-in-sports. Note que no ranking deles, Le Mans está em 3° lugar (O Super Bowl fica em 4°), enquanto a copa do mundo e as olimpíadas ocupam o 1° e 2° lugares, respectivamente. Mas aqui vale uma ressalva, por mais importante que sejam, a copa do mundo e as olimpíadas são um conjunto de diversos eventos esportivos, enquanto Le Mans se trata de uma única corrida! Não são várias provas, modalidades ou jogos durante um período de semanas, é pura e simplesmente uma única corrida, dá para competir com algo dessa magnitude?

De fato, concorde você ou não com essa “defesa” criada por este humilde petrolhead, é inegável que Le Mans é grande, muito grande. Talvez este ano isso esteja mais em evidência que qualquer outro, dado o sucesso do filme Ford vs Ferrari que estreou no final do ano passado e levou duas estatuetas do Oscar. Se você ainda não assistiu esse filme, pare agora mesmo de ler isso e vá assistir!

Foto: allthatsinteresting.com

Le Mans também é conhecida por fazer parte da tríplice coroa do automobilismo. O que significa que o piloto que vencer as 500 milhas de Indianópolis, o GP de Mônaco e as 24 horas de Le Mans recebe este título não oficial. Ao todo, 19 pilotos já conseguiram competir em todos os 3 eventos ao longo de suas carreiras, mas somente 1 conseguiu vencer nos 3, Graham Hill.

Mas o que torna Le Mans tão grandiosa assim? Em uma só palavra: Tradição.

Nas 500 milhas de Indianópolis o vencedor deve beber uma garrafa de leite na linha da vitória, na NASCAR o campeão deve fazer o famoso “zerinho” em frente ao publico, mas tudo isso não significa nada se comparado à tradição das 24 horas de Le Mans, principalmente aos dias que antecedem a corrida. Desde o tradicional desfile dos pilotos, passando pelo show aéreo na abertura, a clássica largada com os carros a 45° (sim, a largada “Le Mans”), e sem deixar de lado, é claro, os tradicionais acampamentos que são montados pelos fãs ao longo do circuito para inclusive acompanhar a corrida de madrugada, tudo faz parte da tradição e história desta prova.

Foto: allthatsinteresting.com

 

Um pouco da história das 24 horas de Le Mans

Para entender melhor toda essa paixão, precisamos voltar um pouco no tempo para 1923, ano em que o Automobile Club de l’Quest pôs em obra a realização de uma corrida que contribuísse com o desenvolvimento tecnológico dos veículos da época. Mais que uma simples corrida, a prova foi idealizada para funcionar como um teste de resistência, colocando a confiabilidade mecânica dos carros à prova e os levando ao limite, criando assim a categoria que conhecemos hoje como Endurance. 

A primeira corrida aconteceu em ruas públicas e teve diversas regras únicas e curiosas. Dentre elas, havia uma que determinava que os carros precisariam rodar a primeira hora de corrida sem repor nenhum fluído, exatamente para colocar a durabilidade dos modelos à prova. Outra bem famosa é a regra da “distância”, que ficou muito famosa devido à corrida de 1966, retratada no filme Ford vs Ferrari.

Foto: allthatsinteresting.com

Desde 1923, a corrida só foi cancela em 1936 e durante um período de 10 anos a partir de 1939 por causa de WWII. Com raras exceções, como esta que estamos tendo em 2020 por causa do COVID-19, a prova sempre acontece em junho.

Em 1955 um grave acidente tomou a vida de mais de 80 espectadores que assistiam a corrida na platéia. Foi o começo de um conjunto de medidas de segurança que tornariam não somente esta prova, como também todas as outras mais seguras.

Foto: allthatsinteresting.com

A década de 60 viu uma fabricante de carros crescer em Le Mans e se tornar uma verdadeira lenda ao longo dos anos, a Ferrari. Isso, obviamente até a Ford desafia-la em seu próprio território e levar o ford GT 40 à vitória no ano de 1966.

Já na década de 80 a Porsche iniciava sua sequencia de vitórias, o que alguns anos mais tarde resultaria na clássica rivalidade com a Audi. Até hoje, a Porsche é a montadora que detém o maior numero de vitórias em Le Mans, 19 no total, enquanto a Audi possui 13.

 

O circuito

Parte do charme e da tradição de Le Mans, consiste na curiosa combinação das ruas da região de Sarthe, na França com o traçado do circuito de Bugatti.

Ao longo de todos esse anos, o circuit de la Sarthe sofreu mudanças consideráveis desde a primeira edição da corrida em 1923. De fato ele sempre fez uso de ao menos uma parte das vias publicas na região francesa de Sarthe. Em sua configuração original possuía 17.262 m. Após diversas mudanças, a maioria por razões de segurança, o circuito chegou em sua configuração atual com 13.626 m.

Foto: Racingcircuits.info

A velocidade máxima atingida na corrida de 1923 foi de 111 km/h, mas a evolução dos carros permitiu que na década de 80 fossem registradas velocidades superiores a 400 km/h na reta Mulsanne. Essas velocidades causaram muitos acidentes na reta, o que obrigou a introdução de duas chicanes ao longo da Mulsane, presentes até hoje no circuito.

Foto: allthatsinteresting.com

Atualmente, o circuito é a composto por uma combinação de vias públicas e uma parte permanente do circuito Bugatti. Essa mistura é outro desafio aos fabricantes, já que junta o asfalto liso e aderente de uma pista de corrida com o asfalto deficiente e ondulado da via pública. Na verdade as ruas são fechadas pouco antes do início dos treinos para o tráfego local, e é reaberta imediatamente após a corrida, tornando inclusive a montagem dos equipamentos de segurança um verdadeiro desafio para a equipe de infraestrutura.

 

Os carros

Ao longo dos anos, as severas condições às quais são submetidos os carros de Le Mans acabaram se tornando um verdadeiro laboratório de desenvolvimento para as montadoras. Como um exemplo mais recente, os protótipos LMP (vem de Le Mans Prototipe) passaram a utilizar tecnologia híbrida, combinando motores à combustão em um eixo com motores elétricos no outro eixo, alimentados por baterias que são carregadas por freios regenerativos. Complexo? Sim, muito, mas vale qualquer custo para vencer em Le Mans!

Foto: allthatsinteresting.com

A essência da corrida sempre foram os protótipos, mas ao longo das últimas décadas, Le Mans começou a abrir novas categorias para permitir que carros de produção em série também participassem, e acima de tudo, que fossem competitivos ao menos dentro de uma categoria específica.

Aliás, entender os carros e categorias que participam da prova é sobretudo, o primeiro desafio que desanima muitos dos fãs de automobilismo a acompanhar essa corrida. Diferente da simplicidade de uma corrida de Formula 1, por exemplo, onde quem está na frente está ganhando e quem está atrás está perdendo (simples, né?), em Le Mans é comum você ver um grupo completamente embolado de carros onde o que está mais atrás está liderando.

Mas como assim? Que doideira é essa?

Bom, primeiramente, é porque Le Mans é uma corrida de múltiplas categorias, como é comum nas provas de endurance. Nos últimos anos, temos tido 4 categorias correndo: LMP1, LMP2, GTPRO e GTAM. É natural que os carros da LMP dêem muitas voltas sobre os carros GTs, o que quer dizer que mesmo um LMP estando na frente de um GT no geral, o GT ainda pode estar liderando a corrida dentro de sua própria categoria.

Foto: Sportscar racing news

E é claro, em segundo lugar, uma corrida de 24 horas, é de imaginar que exista um número enorme de retardatários, e não estamos falando de segundos, nem de minutos, estamos falando de horas! Muitos carros, mesmo apresentando problemas sérios, conseguem retornar para a corrida após o trabalho da equipe de pit. E aqui vem uma das coisas mais fascinantes desta corrida, o trabalho em equipe.

Certa vez, ouvi que “automobilismo é o esporte individual mais coletivo que existe”, e os pilotos sabem disso, principalmente em Le Mans. Enquanto na NASCAR um erro de segundos dos mecânicos pode custar ao piloto várias posições, no endurance um trabalho de minutos dos mecânicos pode devolver o carro à pista. Na corrida de 1966 e como é visto no filme Ford vs Ferrari (sim, ele de novo), é visto que a equipe da Ford trocou todo o conjunto de freio do Ford GT 40, e mesmo com todo o tempo consumido nesta tarefa o Ford ainda conseguiu ganhar. Os pilotos mais do que ninguém sabem disso, respeitam  valorizam o trabalho de toda equipe.

 

Os pilotos

Esse tema por si só já tomaria diversas páginas para ser abordado. Vamos dizer que para um piloto de automobilismo não há nada mais importante que vencer as 24 horas de Le Mans, é um marco histórico na carreira de qualquer piloto profissional. E que tal então vencer 9 corridas? O único a atingir essa marca foi Tom Kristensen, das quais 7 foram correndo pela Audi.

Mesmo tentando não ser injusto com os outros pilotos, é impossível falar sobre Le Mans sem ao menos citar Ken Miles (já comentei do Ford vs Ferrari?). O piloto britânico teve uma participação memorável na corrida de 1966 onde a Ford derrotou a Ferrari, mas infelizmente não foi vitorioso devido a uma confusão com as regras e a uma jogada de marketing da própria Ford que pediu para que os 3 Fords GTs cruzassem a linha de chegada ao mesmo tempo para uma foto. Se isso não tivesse acontecido, Ken Miles seria o primeiro piloto do mundo a ganhar as 24 horas de Le Mans, 24 horas de Daytona e 12 horas de Sebring no mesmo ano.

Foto: The Telegraph

Essa glória, faz com que diversos pilotos das mais variadas categorias diferentes tentem “dar um tempo” em suas corridas para ir tentar buscar a vitória em Le Mans. A corrida de 2019, por exemplo, foi vencida pelo trio Fernando Alonso, Sébastien Buemi(que venceu também em 2018) e Kazuki Nakajima. Mas é importante lembrar, que dada a duração da corrida, as equipes são sempre compostas por 3 pilotos desde 1985, antes disso era comum as equipes apresentarem somente duplas de pilotos, o que de fato é arriscado, dada a exaustão extrema a que são submetidos os pilotos ao longo das 24 horas.

E quanto ao Brasil? Já tivemos pilotos brasileiros?

Não somente já tivemos vários como tivemos até uma equipe 100% brasileira que participou da corrida no ano de 1978, a Team Pace. Em 2019, os brasileiros André Negrão, Daniel Serra e Felipe Fraga estavam entre os campeões de 3 das  categorias de Le Mans,  LMP2, GTE-Pro e GTE-Am, respectivamente.

E quanto a 2020, será que temos chance de vitória? Fique atento que em breve divulgaremos um material completo de todos os pilotos brasileiros  que participarão da corrida no próximo fim de semana, além de um guia completo sobre como e onde assistir a corrida.

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